sexta-feira, 23 de abril de 2010

Livre pelo amor.

Recebi uma carta e era dele. Eu sentia seu cheiro, suas mãos escrevendo com a caneta sobre a folha. Eu peguei-a e abri, fiquei absurdamente chocada quando li que ele iria embora da pequena cidade. Minha reação? Sim, totalmente desmotivadora eu não sabia o que fazer, porém no final da página lá esta minha salvação!

- “ Querida, sei que não posso impedi-la de viver, mesmo porque, tudo que sinto não se resume em ter você apenas para mim! Quero que saiba o quanto eu a amo e o quanto, por mais difícil que seja, a liberto de todo meu amor para seguir em frente. Nunca duvidei um segundo da sua palavra, quero propor que se for de seu agrado irei buscá-la hoje a meia noite em frente ao chafariz da cidade, é uma decisão difícil por isso mandei o mais cedo que pude, mas lembre-se que se você não for, está totalmente livre! Eu a amo muito minha pequena garota” – Terminei de ler e logo comecei a chorar, eu duvidava da minha capacidade de abandonar todos os confortos que tinha, seria uma coisa muito difícil, porém preferia mil vezes estar ao lado dele do jeito que fosse do que viver sabendo que poderia ter ido ao encontro e fugido.

Fui criada em uma grande família, famosa por ocupar grande parte da corte Inglesa. Desde pequena eu convivia com pessoas da nobreza e muitas das coisas que eu sabia eram devido a elas. Eu tinha tudo em minhas mãos, controlava muitas coisas referentes a mim. Mas um belo dia eu perdi todo o controle, quando eu vi pela primeira vez o homem destinado a cuidar da minha segurança, pois constantemente a corte recebia ataques. Eu olhei para ele e por alguns minutos eu senti minhas pernas tremerem, meu coração acelerar, meu sangue esquentar, eu não conseguia tirar meus olhos dele, era como se fosse meu reflexo no espelho, diferente lógico, mas de mesma essência. Fui apresentada a ele, e no momento em que ele pegou minha mão, delicadamente eu senti a felicidade me abraçar de mansinho, ele beijo-a e eu apenas sorri. Eu não imaginava o quanto estava feliz em conhecê-lo, havia cansado de viver com inúmeras restrições, e ele me dava toda a liberdade. Durante os meses que vieram, ele começou a passar a maior parte do dia comigo. De início achavam estranho andarmos a sós. Gostávamos dos mesmos livros e normalmente íamos aos mesmos lugares e concertos de música. Eu não me imaginava mais sem a presença dele e acredito que ele sem a minha. Um belo dia fomos a um campo andar a cavalo, eu gostava do jeito em que ele me fazia enfrentar qualquer tipo de obstáculo e me sentia realizada ao lado dele. Depois de uma longa cavalgada sentamos para um piquenique, era tudo muito mágico. Esticamos a toalha e logo começamos a colocar tudo fora da cesta. Comemos algumas frutas que pareciam ser muito saborosas e derrepente ele me olhou nos olhos e riu, logo perguntei o que era.

- Obrigado por ter me escolhido, acredito que se não fosse de bom gosto a você, logo teria me demitido. Você tem feito dos meus dias algo extremamente magnífico. – Ele abaixou a cabeça, e pude perceber o quanto ele estava envergonhado. Já era tímido e expondo seus sentimentos ele se tornava mais. – Eu já não sei o que falar e tem acontecido algo que creio que não devo esconder justo de você. – Ele estava totalmente sério e eu apenas sorria e o encarava.

- Pois então me conte, já lhe disse que pode falar o que quiser! – Eu não sábia o que era tão importante naquele momento.

- Deixa eu te mostrar que será mais fácil você compreender! – Ele chegou de mansinho mais perto de mim, e continuava a me encarar e eu de repente fiquei imóvel, apenas lhe retribuía o olhar. Ele inclinou a cabeça e suavemente me beijou. Foi como um sonho e durante aqueles segundos, me emocionei de tão puro que era o saber do amor.

No mesmo dia, chegando em casa do meu passeio, descobri que toda a guarda estava a nossa espera. Assim que desci do cavalo vieram dois guardas e me seguraram pelo braço, e imobilizaram-no. Eu estava louca e pedi para que me soltassem e ninguém me dava atenção. Mais a frente estava vindo meu pai, um dos homens que a Inglaterra reverenciava e ao qual eu não suportava. Levaram meu amor para uma das celas que haviam dentro da casa real e a mim para a sala nobre. Fui questionada sobre a minha postura de ser flagrada aos beijos com um segurança que nem sangue puro teria, e pela primeira vez na vida, não reivindiquei nada ao meu direito. Fiquei trancada por uns dias dentro de uma sala sem acesso algum aos outros cômodos da casa. Após alguns dias uma das senhoras, que antes passavam o dia comigo, veio me visitar. A pedia para acreditar na minha palavra, e ela me vendo naquele estado começou a chorar. Falei-a que nada importaria e que no final tudo daria certo, mas de início precisava de uma ajuda. Ela me olhos e questionou sobre o que eu faria

- Minha linda, você tem certeza de que quer isso? Você correu um grande risco há semanas atrás e não consigo vê-la nesse estado, me dói à alma – Ela pegou em minha mão e chorou. Muito mais que apenas uma senhora ela se tornou uma amiga, uma irmã e uma mãe, pois minha mãe verdadeira não se dava ao luxo de vir me visitar.

- Sim, é apenas isso que eu quero, que você solte-o e o deixe livre, ele vai entender. Não deveriam o culpar por me amar! – Eu apenas pensava no momento em que o tinha conhecido – Eu sinto que é verdadeiro, eu irei fugir imediatamente daqui, isso eu consigo. Apenas peço que o solte e venha me contar! – A senhora saiu da sala às pressas e em meia hora retornou. O sol começava a nascer e ela toda contente veio e meu contou o que houve.

- Consegui soltar ele, foi difícil, mas se era isso que a senhorita queria, eu fiz. Ele a ama muito e eu, assim como você, acredito nesse amor. Ele me mandou entregar essa carta!

Sim, era minha carta. Eu apenas deveria decidir meu destino.

Tive que manter tudo em segredo durante algumas as horas que se passaram antes de fugir de casa e abandonar toda uma vida. Não sabia nem direito o que fazer, nem por onde começar e quanto mais eu ficava pensando, mais eu perdia a noção do tempo. Pedi a senhora, que me ajudasse a fazer uma pequena mala, com algumas roupas que usaria nos próximos dias, o resto eu dava um jeito. Pela tarde relembrei toda minha infância naquela casa, agora só restava a saudade antecipada. Eu já começava a me desprender de qualquer sentimento que eu poderia ter, mas o que mais em machucou foi ter que deixar a velha senhora aos cuidados da casa. Quando o sol se punha e dava lugar à lua eu começava a acordar, logo depois me despedi do que era possível e fui descer silenciosamente as escadas da saída dos fundos. Lacei um cavalo que estava por perto e fui em direção à cidade, eu sentia a liberdade de viver, sentia o amor fluir em minhas veias. Foi quando ao longe o vi em um cavalo preto, ele sorria pra mim. Desci do meu cavalo e corri o mais rápido que pude e o abracei. Seu corpo me apertava e ele me beijava. Suas mãos seguravam meu rosto e sentia o quanto real era tudo aquilo.

Subi em seu cavalo e fomos em direção ao horizonte que ao longe se transformava em uma linda paisagem campestre. O vento beijava suavemente minha pele e bagunçava delicadamente cada fio do meu cabelo. Eu me sentia livre a cada segundo que passava. Ele sorria de uma forma tão natural e tão comovente como se a vida apenas lhe mostrasse a felicidade. Passei todo o percurso encostada-se a suas costas, sentindo seu perfume que me envolvia e quando achei que estava livre de tudo o que me impedia de viver com ele, ouvi um barulho muito forte atas de nós. Acionaram a Guarda Inglesa, eu sabia, estava atrás mim. Agora eu não poderia fazer nada. A única certeza que eu tinha era que eu estava com ele, meu grande amor, e ao lado dele nada de ruim iria me acontecer, eu estava protegida. Todos sabiam, eu iria enfrentar o que fosse para viver ao lado dele.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

I- Folhas de Outono

Bom, tudo começou em 11 de Abril. Na realidade foi muito antes, mas considero esse dia o marco inicial da minha vida, a primeira vez que eu conheci o amor.
Era uma linda tarde de outono, eu havia saído para andar por um parque do qual eu achava muito bonito nessa época. As folhas secas das árvores começavam a cair, as típicas folhas de outono que guardo até hoje dentro do meu livro. O sol esquentava tudo o que o frio insistia em congelar, porém não me importava, sempre achei interessante o jogo pelo qual eles vivem a brincar. Os cisnes desfilavam timidamente pelo lago que cortava o parque e os velhos casais de passarinhos continuavam a se debicar no topo das árvores. Mais a frente havia uma pequena praça, de um gramado verde claro, de pequenas roseiras vermelhas aos cantos e por fim uma pequena nascente que se incorporava, ao fundo, com o lago. Havia alguns bancos a disposição de quem quisesse sentar. Dois bancos na entrada da pracinha, um à frente da nascente e o mais especial, de baixo de uma grande árvore da qual caia as tais folhas incessavelmente.
Um dia sentei nesse banco para admirar a beleza que a natureza fez e o pouco que a humanidade preservou nessa incessante luta, e eu realmente não sabia que esse dia faria uma diferença enorme em minha vida. Logo após ter sentado, um jovem rapaz sentou-se na outra ponta do banco, um lindo garoto de olhos verdes, um olhar do qual não passava despercebido, era alto, de pele clara e cabelos castanhos. Vestia uma camisa branca de colarinho, calça preta e sapatos pretos engraxados que reluziam a luz do por do sol. Ele olhou em minha direção e me entregou um pequeno livro de capa dura verde.
- Abra e leia-a! – Disse ele, com uma voz tranquila e doce que me encantou. Ele olhava fixamente ao lago como se tivesse algo que prende sua atenção.
-Ler o que? – Perguntei sem saber – Não estou entendendo - Ele não me olhava, calmo, repetia a mesma frase.
Então, mesmo sem entender nada abri o pequeno livro, achei melhor fazer o que ele pedia, folheei e achei algo que me interessasse, e comecei a ler.
-“ JULIETA : Quem te trouxe até aqui?
ROMEU : Primeiro, o próprio amor; aceitei o seu conselho e empreitei-lhes meus olhos. Não sou timoneiro e contudo, se estivesse tão longe quanto a praia banhada pelo mais longínquo mar, sairia em busca de tão precioso tesouro.” – Durante esses minutos não pensei em mais nada do que no pequeno verso que li e reli mentalmente e que fui interrompida, por ele, de continuar. Pensei no que aquilo tudo poderia dizer, era conhecidencia de mais, abrir um livro e ler justo essa página, ironia tão grande e mágica de um destino que talvez pudesse ter sido traçado muito antes de eu imaginar o conhecer. Olhei pra ele, mas ele continuava a olhar o lago e depois de um longo tempo em silêncio ele disse .
- Acho lindo essa parte e conveniente para se lê-la aqui – Ele possuía um vocabulário vasto da qual eu pouco sabia interpretar, nada disse a ele pois sabia que naquele momento nada sairia da minha boca, como se eu soubesse tudo o que acontecia mas meu corpo não sabia responder, apenas sorri em silencio e lhe entreguei o livro. Ele olhou pra mim e o entregou novamente, disse que eu poderia ficar com ele e que seria um presente por ter aceitado ler o pequeno verso . A insistência transbordou por seus olhos, olhos que me enxergavam por inteira que viam minha alma.
- Obrigada – foi apenas o que eu pude dizer. Após aquele dia Romeu e Julieta não foram mais os mesmos, os personagens passaram de meros atores para um casal de amantes da qual a história eu sabia de cor.
Depois de um silencio perturbador e o canto de alguns passarinhos que voavam por ali, ele olhou em meus olhos, agradeceu por aquelas horas, beijou de leve minha mão e foi embora, como se ele não soube-se que a partir daquele dia mudou toda minha vida.
- Quando for possível irei vê-la, mas estarei pensando o suficiente em você para nunca estar sozinha, fique bem e até mais. – Como se ele já sentisse algo por mim, algo que ele sabia que começava também a se desenvolver dentro do meu coração por ele, era algo tão mutuo e ao mesmo tempo repentino, era Deus colocando um anjo pelo meu caminho incerto .
Segui seus passos e quis que ele voltasse e até tentei impedi-lo, mas meu corpo não respondia.Quando iria vê-lo novamente? Quando iria olhar novamente para aquele jovem que em poucos minutos transformou meu mundo ? Continuei sentada no banco, vendo até onde poderia enxergá-lo e ele sumiu deixando apenas a recordação daquele momento e a saudade que surgiu meramente . Reabri o livro, uma folha que acabava de cair da árvore sentou em meu colo ajuntei-a delicadamente e a coloquei no livro marcando a pagina do meu mais belo verso de Romeu e Julieta, por minutos quis que tudo acontecesse novamente, que existi-se uma maquina do tempo pra contempla-lo de novo, porém nada iria acontecer, isso era certeza, então minha única saída seria esperar até quando nosso destino iria se encontrar de novo, quando iríamos dividir novamente o banco de baixo das árvores das folhas de outono.