Bom, tudo começou em 11 de Abril. Na realidade foi muito antes, mas considero esse dia o marco inicial da minha vida, a primeira vez que eu conheci o amor.
Era uma linda tarde de outono, eu havia saído para andar por um parque do qual eu achava muito bonito nessa época. As folhas secas das árvores começavam a cair, as típicas folhas de outono que guardo até hoje dentro do meu livro. O sol esquentava tudo o que o frio insistia em congelar, porém não me importava, sempre achei interessante o jogo pelo qual eles vivem a brincar. Os cisnes desfilavam timidamente pelo lago que cortava o parque e os velhos casais de passarinhos continuavam a se debicar no topo das árvores. Mais a frente havia uma pequena praça, de um gramado verde claro, de pequenas roseiras vermelhas aos cantos e por fim uma pequena nascente que se incorporava, ao fundo, com o lago. Havia alguns bancos a disposição de quem quisesse sentar. Dois bancos na entrada da pracinha, um à frente da nascente e o mais especial, de baixo de uma grande árvore da qual caia as tais folhas incessavelmente.
Um dia sentei nesse banco para admirar a beleza que a natureza fez e o pouco que a humanidade preservou nessa incessante luta, e eu realmente não sabia que esse dia faria uma diferença enorme em minha vida. Logo após ter sentado, um jovem rapaz sentou-se na outra ponta do banco, um lindo garoto de olhos verdes, um olhar do qual não passava despercebido, era alto, de pele clara e cabelos castanhos. Vestia uma camisa branca de colarinho, calça preta e sapatos pretos engraxados que reluziam a luz do por do sol. Ele olhou em minha direção e me entregou um pequeno livro de capa dura verde.
- Abra e leia-a! – Disse ele, com uma voz tranquila e doce que me encantou. Ele olhava fixamente ao lago como se tivesse algo que prende sua atenção.
-Ler o que? – Perguntei sem saber – Não estou entendendo - Ele não me olhava, calmo, repetia a mesma frase.
Então, mesmo sem entender nada abri o pequeno livro, achei melhor fazer o que ele pedia, folheei e achei algo que me interessasse, e comecei a ler.
-“ JULIETA : Quem te trouxe até aqui?
ROMEU : Primeiro, o próprio amor; aceitei o seu conselho e empreitei-lhes meus olhos. Não sou timoneiro e contudo, se estivesse tão longe quanto a praia banhada pelo mais longínquo mar, sairia em busca de tão precioso tesouro.” – Durante esses minutos não pensei em mais nada do que no pequeno verso que li e reli mentalmente e que fui interrompida, por ele, de continuar. Pensei no que aquilo tudo poderia dizer, era conhecidencia de mais, abrir um livro e ler justo essa página, ironia tão grande e mágica de um destino que talvez pudesse ter sido traçado muito antes de eu imaginar o conhecer. Olhei pra ele, mas ele continuava a olhar o lago e depois de um longo tempo em silêncio ele disse .
- Acho lindo essa parte e conveniente para se lê-la aqui – Ele possuía um vocabulário vasto da qual eu pouco sabia interpretar, nada disse a ele pois sabia que naquele momento nada sairia da minha boca, como se eu soubesse tudo o que acontecia mas meu corpo não sabia responder, apenas sorri em silencio e lhe entreguei o livro. Ele olhou pra mim e o entregou novamente, disse que eu poderia ficar com ele e que seria um presente por ter aceitado ler o pequeno verso . A insistência transbordou por seus olhos, olhos que me enxergavam por inteira que viam minha alma.
- Obrigada – foi apenas o que eu pude dizer. Após aquele dia Romeu e Julieta não foram mais os mesmos, os personagens passaram de meros atores para um casal de amantes da qual a história eu sabia de cor.
Depois de um silencio perturbador e o canto de alguns passarinhos que voavam por ali, ele olhou em meus olhos, agradeceu por aquelas horas, beijou de leve minha mão e foi embora, como se ele não soube-se que a partir daquele dia mudou toda minha vida.
- Quando for possível irei vê-la, mas estarei pensando o suficiente em você para nunca estar sozinha, fique bem e até mais. – Como se ele já sentisse algo por mim, algo que ele sabia que começava também a se desenvolver dentro do meu coração por ele, era algo tão mutuo e ao mesmo tempo repentino, era Deus colocando um anjo pelo meu caminho incerto .
Segui seus passos e quis que ele voltasse e até tentei impedi-lo, mas meu corpo não respondia.Quando iria vê-lo novamente? Quando iria olhar novamente para aquele jovem que em poucos minutos transformou meu mundo ? Continuei sentada no banco, vendo até onde poderia enxergá-lo e ele sumiu deixando apenas a recordação daquele momento e a saudade que surgiu meramente . Reabri o livro, uma folha que acabava de cair da árvore sentou em meu colo ajuntei-a delicadamente e a coloquei no livro marcando a pagina do meu mais belo verso de Romeu e Julieta, por minutos quis que tudo acontecesse novamente, que existi-se uma maquina do tempo pra contempla-lo de novo, porém nada iria acontecer, isso era certeza, então minha única saída seria esperar até quando nosso destino iria se encontrar de novo, quando iríamos dividir novamente o banco de baixo das árvores das folhas de outono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário